segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Festa Infinita – O Entorpecente Mundo das Raves"


Tudo que é BOM dura POUCO


O jornalista Tomás Chiaverini escreveu um livro sobre raves “Festa Infinita – O Entorpecente Mundo das Raves”. Mesmo Tomás admitindo que não sabia nada de música eletrônica, pesquisou e correu atrás ate conseguir tudo que precisava para escrever a história.

“O bom jornalista mergulha naquele assunto, pesquisa, fuça, entrevista, convive com os personagens e, a partir daí, extrai sua história”. Já em sua pesquisa sobre as raves, ele tomou ecstasy, viajou com a galera de ônibus para a Bahia, frequentou um monte de festas e conversou com dezenas de pessoas desse meio.

O livro será lançado pela Ediouro. É certo que vem polêmica por aí.

Tomás Chiaverini, respondeu alguns perguntas sobre sua vida e sobre tudo que fez para conseguir escrever o livro.

Por que escrever um livro sobre as raves? O que lhe atraiu nesse tema?

Tive a idéia de escrever o livro quando estava de férias na Bahia e conheci um pessoal que estava indo para o Universo Paralello. Quando eles começaram a falar sobre festas que duram semanas, que atraem dezenas de milhares de pessoas, que são organizadas em praias isoladas, desertos, galpões, que têm toda essa cultura meio neo-hippie por trás, já fiquei pra lá de interessado no assunto.

Depois de pesquisar um pouco, as questões mais antropológicas também me fascinaram: até onde vai o impacto de um festival gigantesco numa cidadezinha baiana, como convivem dez mil pessoas acampadas durante dias num mesmo lugar isolado, como o transe pela música age na nossa cabeça, e assim por diante.

Você me contou que não sabia nada sobre o assunto antes de começar a pesquisa. Mas certamente tinha algumas ideias pré-concebidas sobre esse universo. Quais eram? Quais provaram estar certas e quais erradas?

Como não podia deixar de ser, eu tinha um pouco aquela visão de templo da perdição, que a imprensa geralmente passa sobre as raves. E, convenhamos, há algumas festas que não estão tão longe desse estereótipo. Mas eu imaginava as raves como algo mais soturno, algo mais próximo do punk do que do hippie, visão que hoje me parece incorreta.

Quais foram as maiores dificuldades que teve durante a pesquisa e elaboração do livro?

Eu faço um jornalismo que é bem diferente do que encontramos nos jornais e revistas tradicionais. É um jornalismo humano, muito voltado pra histórias de vida, pra personagens. E para que esses personagens ganhem profundidade, é preciso uma aproximação muito grande entre o repórter e o entrevistado, o que é muito difícil.

Primeiro porque sou um pouco tímido, então tenho de me esforçar pra me aproximar de desconhecidos. Segundo porque quando essa aproximação acontece, ela quase sempre traz junto uma relação de amizade o que faz com que seja muito difícil manter um mínimo de imparcialidade.

Destaque alguns personagens interessantes que encontrou em sua pesquisa.

Putz, são vários. Mas tem a história do André Meyer, que antes de ser pioneiro das raves e dos piercings por aqui acompanhou o surgimento das festas em Londres e em Goa. Tem o perfil do Alok e toda a tensão que ele enfrenta nas semanas que antecedem o Universo Paralello. Ah, e tem o pessoal do Fuck For Forest, um grupo de gringos que faz shows de sexo, mantém um site com suas performances, e reverte todo o dinheiro que ganha para causas ambientais.

Que DJs e núcleos de festa entrevistou?

Também foram vários. Mas os DJs que estão na ativa e que aparecem bastante no livro são o Rica Amaral, o Gabriel Serrasqueiro (do Wrecked Machines), o Du Serena, o Swarup e o Edu (da Respect). As festas mais retratadas são a Respect, a Xxxperience, a Tribe, o Trancendence e o Universo Paralello. Além disso, têm os DJs pioneiros: André Meyer, Dmitri Rugiero (da Avonts), tem o pessoal da Fusion, têm um pouco das suas festas, que começaram a juntar o mundo eletrônico urbano com as raves que vinham de Trancoso, enfim, muita coisa.

No final, qual é sua conclusão sobre o modo como a mídia ou a opinião “mainstream” vê as raves. É uma visão injusta? Por quê?

Eu acho que sim, porque as raves geralmente ganham espaço na grande imprensa quando alguém morre de overdose, despenca do penhasco ou é esmagado por uma caixa de som. Por outro lado, é assim que a imprensa funciona, à base de más notícias. E funciona assim, porque é isso que vende jornal, os telejornais têm mais audiência quando mostram catástrofes. Então é injusto? É, mas faz parte do jogo, da natureza humana.

Você acha que ele tem potencial polêmico?

Eu acho que o Festa Infinita vai causar polêmica dentro e fora da cena, e talvez a questão das drogas seja a mais crítica. Como disse, eu faço um retrato multifacetado da questão. Eu tomo um ecstasy, vou para a pista de dança e conto cada uma das sensações maravilhosas que ele causa. Mas também mostro o que acontece no dia seguinte, detalho os efeitos colaterais no organismo, abordo a questão da violência aliada ao tráfico de drogas, e explicito as ações descabidas da polícia. Então, acho que parte dos aficionados por esse mundo vai me chamar de reacionário, enquanto os reacionários vão me acusar de fazer apologia. Mas, no fim, eu espero que o livro seja maior do que essas polêmicas.

Você acha o consumo de drogas excessivo nessa cena?

Acho que sim. Tem muito adolescente que vai a festas apenas pra experimentar uma balinha pela primeira vez. Essa situação se torna mais crítica quando há milhares de pessoas juntas, tomando substâncias que não passaram por nenhum controle de qualidade e podem causar as mais diversas reações no organismo. Mas aí, novamente não podemos colocar a culpa nas raves. Temos o carnaval, as micaretas, os bailes funks, os shows de rock e aposto que nesses eventos o consumo de drogas também é exagerado. As drogas são um problema da sociedade como um todo e não é proibindo as raves que vamos acabar com ele

POSTAGEM: SILVIO SCOLARIQUE

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